serra dos carajas
Brasil

Neodesenvolvimentismo ou neoextrativismo?

serra dos carajasDário Bossi e Marcelo Sampaio Carneiro tratam dos impactos da mineração a partir da experiência de resistência ao longo do Corredor de Carajás (PA e MA) e refletem sobre as implicações de um modelo de exploração que retoma moldes há muito superados.

As discussões envolvendo a elaboração de um novo código de mineração para o Brasil estendem-se desde 2013. Em tese, seria um momento bastante oportuno para repensar concessões e compromissos firmados há quase 50 anos – tempo em que a visada desenvolvimentista enxergava a na- tureza e as populações tradicionais como me- ros obstáculos a serem patrolados em nome do progresso. No entanto, ainda que hoje a preocupação com o ecossistema e a lógica ambiental sejam um imperativo, para o padre Dário Bossi e o engenheiro florestal Marcelo Sampaio Carneiro, não são essas as racionali- dades que orientam o processo.

“O novo código da mineração está sendo articulado pelos interesses das grandes em- presas mineradoras e em conformidade com o Plano Nacional de Mineração 2030, que prevê até aquele ano o aumento de três vezes a exploração de bauxita e ferro, de três vezes e meia a do ouro, e de mais de quatro vezes a do cobre e do níquel”, esclarecem eles, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Li- ne. Inserida neste raciocínio de aumento de produtividade, o projeto econômico foi for- mulado a partir da perspectiva de aumento da lucratividade do setor mineral no mercado internacional – e não para repensar questões caras ao ecossistema.

Conforme Bossi e Carneiro, a estratégia atual do Governo brasileiro vem sendo deno- minada “neodesenvolvimentista” por recu- perar algumas dimensões-chave da política desenvolvimentista – que vem com Getúlio e se estende até os governos militares. Isto por- que compartilham visões semelhantes, como “a crença no crescimento ilimitado como via única do bem-estar, o entendimento do

crescimento econômico como sinônimo de desenvolvimento, o foco na inserção interna- cional e a compreensão de Estado e mercado como instituições complementares”.

No entanto, diferente desta política an- terior, que tinha como foco a autonomia e a independência do mercado brasileiro, a visão de governo atual relega o país ao que eles chamam “neoextrativismo”. “A política eco- nômica com relação às matérias-primas do país, em síntese, se resume no extrativismo voltado à exportação ou no subsídio à indús- tria de beneficiamento inicial dessas maté- rias-primas, novamente em função da expor- tação para elaboração e produção de bens no exterior”. O país fica, desta forma, a mercê da instabilidade econômica dos exportadores, a expansão da produção se rege por critérios multinacionais e não pelas necessidades do próprio país; as economias diversificam-se menos. E, é claro, os impactos sociais e am- bientais tornam-se ainda mais frequentes.

Dário Bossi, padre, missionário combonia- no, é membro da rede Justiça nos Trilhos e da Rede Brasileira de Justiça Ambiental. Marcelo Sampaio Carneiro é graduado em Engenharia Florestal pela Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA e em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Pará – UFPA. Possui mestrado em Planejamento do Desenvolvi- mento pela mesma universidade e doutora- do em Sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Atualmente é pro- fessor associado da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, e autor de Terra, traba- lho e poder: conflitos e lutas sociais no Mara- nhão contemporâneo (São Paulo: Annablume, 2013).

Para ler a entrevista completa: http://www.ihuonline.unisinos.br/impressa/pdf/revista.pdf